Filhote de raia gigante achado em SP será o 1º a ser estudado no Brasil

Filhote de raia gigante achado em SP será o 1º a ser estudado no Brasil

Animal foi encontrado em uma praia de Ilha Comprida, no litoral de São Paulo. Ela era uma fêmea e, segundo os especialistas, deve ter sido vítima de rede de pesca.

Por Mariane Rossi, G1 Santos

08/04/2019

Foto: Em Cananeia, raia manta será a primeira a passar por necropsia no Brasil — Foto: Divulgação/Mantas do Brasil

Uma raia-manta fêmea (Manta birostris ou Mobula birostris) foi encontrada morta e retalhada em Ilha Comprida, no litoral de São Paulo. Ela é a primeira da espécie, ameaçada de extinção, a passar por uma necropsia no Brasil, o que deve contribuir para a pesquisa sobre a incidência desses gigantes, que estão ameaçados de extinção, na costa brasileira. Segundo especialistas ouvidos pelo G1, animais desta espécie podem chegar a 8 metros de comprimento.

Pesquisadores do Instituto de Pesquisas Cananéia (IPeC) encontraram o animal na praia de Pedrinhas, em Ilha Comprida, na última sexta-feira (5). Eles atuavam no monitoramento das praias quando avistaram a raia na faixa de areia, com uma poça de sangue ao lado. "Ela foi encontrada com a lateral do corpo (nadadeiras) cortada", explica Camila Pires, assistente do Ipec.

Os pesquisadores fizeram um registro fotográfico e levaram a raia para a sede do Ipec, em Cananeia. Cientistas do Mantas do Brasil, projeto voltado a preservação e estudo das raias, foram para Cananeia assim que souberam do encontro do animal.

Foto: Raia-manta foi encontrada na areia da praia, em Ilha Comprida — Foto: Divulgação/Mantas do Brasil

Os pesquisadores fizeram a identificação e as primeiras análises do animal. "Ela é relativamente pequena para a espécie, já que os animais podem ultrapassar oito metros de comprimento. Ela tem 2,05 metros e é uma fêmea. Provavelmente, era um filhote”, explica a bióloga e oceanógrafa Ana Carolina Fornicola, do Mantas do Brasil.

A principal suspeita é que ela tenha sido vítima de uma rede de pesca e, em seguida, retalhada. "Provavelmente foi produto de pesca. Ela deve ter se enroscado em alguma rede. Depois, tiraram as nadadeiras peitorais, que é a parte que tinha mais carne, e descartaram. É o que a gente acredita que aconteceu”, explica Ana Carolina.

Apesar de já ocorrerem relatos de pescadores, essa foi a primeira raia-manta a ser registrada oficialmente na região de Ilha Comprida. Ela também será a primeira da espécie a passar por uma necropsia no Brasil.

Foto: Pesquisadores pesam a raia manta em Cananeia, SP — Foto: Divulgação/Mantas do Brasil

"É o primeiro material biológico do Brasil. Nunca tivemos um anima morto no Brasil que pudéssemos fazer a necropsia. Já morreram outros, mas quando ficamos sabendo já está em decomposição. Nunca conseguimos ter um animal e ter as partes necessárias para uma pesquisa”, afirma Ana Carolina.

Além da bióloga, outros pesquisadores como Carlos Eduardo Malavasi Bruno, anatomista em tubarões e raias, estão trabalhando na necropsia do animal. Eles estudam a carcaça e trabalham na coleta de DNA e de outros tecidos. O material será levado para instituições e poderá contribuir para a pesquisa sobre a incidência de raias gigantes na costa brasileira.

"Existem muitas coisas que não conhecemos. É um animal pouco estudado. Aqui no Brasil, não tem muita pesquisa exatamente porque ele é ameaçado de extinção. Não vamos matá-lo para estudar melhor. Por meio dessa necropsia, coletaremos vários fragmentos dos animais para sabermos mais sobre ele", finaliza a bióloga.

Foto: Raia-manta foi levada para a sede do Ipec, em Cananéia — Foto: Divulgação/Mantas do Brasil

Raia-manta

Segundo o projeto Mantas do Brasil, o animal é conhecido popularmente como raia manta, em especial a espécie comprovadamente incidente no Brasil (Manta birostris ou Mobula birostris), que pode atingir oito metros de uma asa à outra e pesar mais de 2 toneladas.

As raias gigantes são animais filtradores, ou seja, alimentam-se filtrando o plâncton presente na água. O mercado asiático passou a comercializar derivados das raias gigantes, e os pescadores, havendo demanda, passaram a caçar tais animais, matá-los, remover seus elementos filtradores e secá-los, sendo comercializados como se tivessem o poder mágico de “filtrar o sangue humano”. A pesca acidental e pesca intencional passou a produzir o declínio da maioria das populações.

Em 2011, ambas as espécies de mantas descritas no mundo foram recategorizadas, deixando o antigo estágio de "próxima a ameaça" para o estágio mais preocupante de “vulnerável a extinção” na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

Foto: Raias-mantas — Foto: Guilherme Kodja/Divulgação

 

 


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