Raia gigante pescada em Vila Velha caracteriza crime ambiental

Raia manta foi pescada em Vila Velha - ES

Pescar ou comercializar raia (ou arraia) manta, conhecida popularmente como raia gigante, no Brasil é crime ambiental e o flagrante pode ocasionar a prisão do infrator. O animal, que pode chegar a 8 metros de envergadura e pesar até 2 toneladas, corre o risco de extinção e é protegido pela legislação brasileira desde 2013.

O alerta é feito pelos pesquisadores e cientistas do Projeto Mantas do Brasil, que estudam a espécie (Manta birostris). A iniciativa tem o patrocínio oficial da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, e patrocínio da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), administradora do Porto de Santos.

A raia manta pescada na manhã de quarta-feira (19), em Vila Velha, Espírito Santo, evidencia a necessidade de divulgação da norma de proibição da pesca da espécie por todo o litoral brasileiro. Se a morte ocorrer por acidente, o animal tem que ser deixado onde ocorreu. O embarque do animal e o desembarque também estão previstos como crime ambiental.

O comércio não é proibido apenas no Brasil, mas internacionalmente. “Além do baixo valor comercial da carne, e de seu consumo ser pouco saudável, são animais que correm o risco de extinção em todo o mundo, inclusive no País", explica a coordenadora do Projeto, Ana Paula Balboni Coelho, que estuda a espécie há 15 anos.

> Saiba mais sobre a legislação brasileira que proíbe a pesca e comercialização da raia 
> Leia a instrução normativa, válida desde 2013, que regulamenta a proibição 

As raias mantas caracterizam-se como animais dóceis, apesar do tamanho que podem atingir. Trata-se de uma espécie filtradora (que se alimenta do plâncton presente na água) e, diferente do que muitas pessoas acreditam, não possui ferrão na cauda - diferente de diversas outras espécies menores de arraias.

Outro fator destacado pela pesquisadora é o lento e complexo processo reprodutivo, o que dificulta a manutenção do número de indivíduos em todo o mundo. Segundo ela, cada gestação dura, em média, um ano, e as fêmeas resguardam-se outros dois anos para a próxima gestação. Cada gestação produz um único filhote.

A espécie do gigante marinho integra a megafauna carismática brasileira. São animais, inofensivos aos humanos, que geram mais valor econômico estando vivos, do que mortos. O turismo de mergulho, atrai, todos os anos e de forma crescente, a atenção de milhares de mergulhadores. Além do que, a observação turística gera recursos perenes, pois os mesmos animais têm o potencial de serem vistos ao longo de décadas.

Raia manta foi pescada em Vila Velha - ES

Monitoramento

Cada indivíduo encontrado pela costa brasileira é catalogado e integra o Banco Brasileiro de Mantas (BBM) e o Banco Mundial de Mantas (MantaMatcher). A identificação ocorre pelo registro fotográfico das manchas ventrais (da barriga), que funcionam como as digitais humanas.

O trabalho de monitoramento do Projeto Mantas do Brasil é executado por toda a costa do País com o apoio de colaboradores e já conta com registros desde o Paraná até Fernando de Noronha. A preocupação maior, entretanto, está no Litoral de São Paulo, onde está cientificamente comprovada a agregação de animais da espécie a cada inverno.

"Importante que as autoridades ambientais locais estejam atentas ao ocorrido na manhã de ontem. Preocupa-nos o fato de ser algo recorrente, conforme informado por uma entrevistada em reportagem publicada no G1", fala Ana Paula. O Projeto pretende realizar ações de conscientização na região até o próximo ano.


Imprimir   Email