Pode ultrapassar os sete metros de comprimento, atingir duas toneladas e voar debaixo e sobre a água - batendo asas, literalmente. Mas acredite: é dócil e inofensiva. Não possui ferrão na cauda. Filtradora de plâncton, seus 500 dentículos são praticamente invisíveis a olho nu.
A impressionante raia gigante, conhecida popularmente como raia-manta ou jamanta (Manta birostris), é o motivo da existência do Projeto Mantas do Brasil, patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Ambiental, que visa aumentar o conhecimento da espécie, a preservação e, acima de tudo, compreender o processo migratório do animal pela costa brasileira.
Pioneiro na América Latina, o Projeto Mantas do Brasil tem como sede a Baixada Santista. O motivo não poderia ser outro: o Parque Estadual Marinho da Laje de Santos (PEMLS) é um dos raros pontos de mergulho no mundo para encontrar e estudar o animal – a exemplo do que ocorre em Moçambique, na África, Isla de La Plata, no Equador e no arquipélago do Hawaii.
>“A Laje de Santos é o principal ponto de observação da raia-manta no país. Desde que iniciamos o monitoramento da espécie, reunindo registros de mais de 20 anos e coletando novos registros e observações, já comprovamos 80 animais visitando a nossa região”, diz a coordenadora geral do Projeto Mantas do Brasil, Ana Paula Balboni Coelho – que mergulha desde o início da década de 1990 e participa de expedições para o estudo da Manta birostris por todo o planeta.
Pesquisa e preservaçãoAlém da paixão pela vida submersa, os pesquisadores do Mantas do Brasil trabalham em prol da preservação e perpetuação da Manta. Prova disso são as atividades de foto-identificação e de tageamento (ou marcação dos animais por meio de transmissores via satélite). “Só assim conseguimos compreender o processo migratório e o comportando da raia-manta pelo litoral brasileiro”, explica a coordenadora administrativa do Projeto, Paula Romano.
A foto-identificação ocorre com trabalho dos mergulhadores profissionais e, também, pelos amadores. Muitos dos que vão até a Laje de Santos conseguem registrar, por meio de câmeras subaquáticas, a passagem desses animais. Todo o material captado é armazenado em um banco de dados do Mantas do Brasil e comparado com informações coletadas em outros oceanos.
Há ainda a marcação de cada animal novo encontrado por meio de pequenos transmissores via satélite – restritos apenas aos pesquisadores do Projeto, devido à complexidade dos equipamentos e cuidados que se deve ter com o animal.
>Os trabalhos de fotoidentificação servem para criar um “RG” de cada animal, a partir da foto do ventre, que possui manchas singulares. Os dados coletados servem para avaliar a taxa de retorno (a temporada ocorre no inverno do Hemisfério Sul), mortalidade e até mesmo o tempo de vida da espécie, considerada em extinção.
Na lista vermelha da IUCN a raia-manta é considerada como ‘vulnerável à extinção’. Dados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade Brasileira (ICMBio) indicam que a espécie corre, de fato, o risco de deixar de existir. Entre os motivos, está a pesca predatória. No Brasil, a pesca ainda ocorre de modo acidental, existindo a necessidade de levar conhecimento aos pescadores, para que deixem de matar o animal após a captura acidental.
Desde março de 2013 a pesca das raias-mantas está proibida em todo o litoral brasileiro.
HistóricoA Laje de Santos (rochedo localizado a 35 quilômetros da costa), além de ser salvaguardada pela legislação brasileira, pela Polícia Ambiental e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), é preservado pelo Instituto Laje Viva. Instituição sem fins lucrativos de caráter ambientalista que visa, fundamentalmente, proteger o Parque Estadual Marinho que completa, em 2013, 20 anos de existência.
O Projeto Mantas do Brasil chega, oficialmente, ao seu terceiro ano, com a continuidade do patrocínio pela Petrobras, por meio da Petrobras Ambiental. Assim, desde 2010, todos os mergulhadores e visitantes que passam pela Laje de Santos no inverno são incentivados a registrar todos os animais que passam pelo Parque.