Raia 'Juju'(Foto: Leo Francini/Mantas do Brasi) |
Pesquisadores localizaram quatro raias mantas gigantes em uma região conhecida como Parcel Dom Pedro II, na costa do Litoral Sul de São Paulo. Tratam-se dos primeiros registros históricos da espécie (Manta birostris) naquela área, popular entre os praticantes da caça submarina. Os animais já foram catalogados no Banco Brasileiro de Mantas (BBM).
Os trabalhos de pesquisa e reconhecimento são feitos pela equipe do Projeto Mantas do Brasil que tem o patrocínio oficial da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental desde 2009 e, mais recentemente, com o patrocínio da Companhia Docas de Santos (Codesp), empresa administradora do Porto de Santos, o maior e mais importante complexo portuário da América Latina.
A mais recente avistagem ocorreu nesta terça-feira (9). Trata-se de um macho de quase 5 metros de envergadura (tamanho de uma 'asa' a outra) . Além do registro fotográfico, os pesquisadores realizaram a coleta do muco que fica envolto ao animal. A substância contém material genético (DNA) e serve para que os cientistas façam uma análise biológica do indivíduo.
No fim de semana, a equipe composta por mergulhadores, biólogos e oceanógrafos já havia conseguido encontrar uma raia manta fêmea no mesmo lugar, localizado a quase 25 quilômetros da costa. Com comportamento dócil, ela permaneceu próxima da superfície: em alguns momentos foi possível observar as pontas nadadeiras para fora da água.
"A imagem em que verificamos as nadadeiras da manta acima da linha d'água é inédita em nosso litoral", afirma o biólogo do Projeto Mantas do Brasil, Eric Comin. Ele integrou as expedições realizadas pelo Projeto Mantas do Brasil. Respectivamente, as mantas foram batizadas como “Oceanográfo”, em homenagem ao dia do profissional, e “Magini”.
Raia 'Oceanógrafo', encontrada no Parcel Dom Pedro II (Foto:Leo Francini/Mantas do Brasil) |
Dois primeiros registros
Há uma semana, os pesquisadores encontraram as duas primeiras raias mantas da história no Parcel Dom Pedro II. Localizado entre acosta de Mongaguá e Itanhaém, a formação rochosa submersa, que oferece risco à navegação, reúne diversidade de vida marinha. No entanto, não é uma área preservada e está sujeita à pesca e à caça submarina.
Ambos animais são fêmeas e possuem envergadura superior a 5 metros de comprimento. A primeira foi batizada como “Juju” e, a outra, como “Maroca”. Os animais estavam aparentemente saudáveis, mas apresentavam diversos ferimentos devido ao enrosco em linhas e redes de pesca. Eles ainda não tinham sido catalogados.
"Recebemos a informação de pescadores de que as mantas estavam por lá e comprovamos", fala o coordenador de educação ambiental do Projeto Mantas do Brasil, Guilherme Kodja. Caso o aparecimento dessas raias se mostre típico, os estudos do Projeto poderão comprovar um novo ponto de agregação da espécie na costa brasileira.
Primeira da temporada
Com os quatro registros do Parcel Dom Pedro, chegam a cinco o número de raias gigantes avistadas nesta temporada na costa brasileira. A primeira delas ocorreu no final de março na Ilha da Queimada Grande, em Itanhaém. Batizada de “Help”, trata-se de um macho de aproximadamente quatro metros. Ele tinha cicatrizes ocasionadas por linhas de pesca.
Todas as raias foram identificadas e registradas pelas manchas que possuem no ventre (barriga) - elas funcionam como as digitais humanas. A fotoidentificação permite, por exemplo, delimitar rotas migratórias da espécie na costa brasileira, a partir de um eventual novo registro. Todos estão concentrados na plataforma do BBM, que é de acesso universal.
Equipe do Projeto Mantas do Brasil em expedição (Foto: Leo Francini/Mantas do Brasil) |
Risco de extinção
Completam-se em 2015 dois anos da proibição da pesca predatória de raia manta no Brasil. Foram os integrantes do Instituto Laje Viva, realizador do Projeto Mantas do Brasil, que auxiliaram na intermediação de conversas com o Governo Federal, fornecendo informações técnicas que demonstram que a espécie gigante está em risco de extinção.
"A lei prevê sanções aos pescadores que trouxerem a bordo de suas embarcações o animal morto, ainda que por acidente”, ressalta a coordenadora geral do Projeto, Ana Paula Balboni Coelho.
A missão do Projeto, que existe oficialmente há 5 anos, é justamente a de auxiliar na preservação das raias mantas. Entre outras ações realizadas pelos pesquisadores, biólogos e voluntários está a de educação ambiental, que alcança estudantes de toda a Baixada Santista, bem como a formação gratuita de mergulhadores, profissionais ou amadores, para a fotoidentificação (a partir de uma foto do ventre) durante eventual encontro subaquático com um animal da espécie por toda a costa brasileira.