Você conhece a cena da criação de Adão, pintada por Michelângelo no teto da Capela Sistina, quando homem e Deus quase se tocam enquanto se olham? É dessa forma que Ana Paula Balboni Coelho, presidente do Instituto Laje Viva e coordenadora geral do Projeto Mantas do Brasil, descreve o encontro de um mergulhador com a Manta birostris – conhecida popularmente como raia-manta. “Se qualquer gigante marinho é magnífco, aquele que bate asas é de uma beleza quase cruel. Faz o coração pular uma batida, faz o tempo parar”, descreve Ana.
Um dos maiores e mais dóceis peixes do oceano, que possui até oito metros de comprimento e duas toneladas de peso, a raia-manta corre risco de sumir. A espécie foi recategorizada na lista vermelha em risco de extinção da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN). Seres migratórios que percorrem gigantescas distâncias, se reproduzem de uma forma muito lenta, por isso não tem condições de repovoar uma área que tenha sido explorada pela pesca, mesmo que acidental. Esse é o desafio do Instituto Laje Viva, anfitrião da quarta etapa dos Encontros Socioambientais.
O estalo para a criação do projeto surgiu a partir das primeiras fotoidentificações. De uma série de registros desses gigantes gentis, Ana Paula percebeu que estava fazendo ciência sem saber. “Cada raia tem uma série de manchas no ventre, como uma impressão digital, que as tornam únicas. Passamos a dar nomes atrelados as manchas de cada animal. Um biólogo – que hoje é cientista responsável pelo Projeto – olhou pra nossa coleção de figurinhas e disse: temos uma publicação científica”, relembra. Esse foi o embrião do “Mantas do Brasil” e também do “Programa Cidadão Cientista”, que busca tirar o mergulhador da passividade de suas observações, aguçar seu olhar, sua curiosidade e torná-lo uma ferramenta ativa em prol da ciência e da preservação.
Em busca desse encontro único, Lenine e os representantes dos projetos “Albatroz”, “Verde Esporte na Areia”, “Rede de Empreendedorismo Comunitário Cananéia”, “Juventude e Trabalho”, “Juçara”, “Pescador Amigo” e a equipe do “Programa Petrobras Socioambiental” embarcaram nesta manhã, no litoral de São Paulo. O destino foi o Parque Estadual Marinho da Laje de Santos, local utilizado pela maioria dos pesquisadores dessa região como objeto de estudo. De longe, a Laje de Santos lembra o formato de uma baleia. Águas bem azuis, face voltada para o mar aberto, de oeste a leste, com um farol da Marinha no topo… São deslumbrantes as belezas naturais que desbravamos depois uma hora de viagem! A parte rochosa que fica acima do mar acolhe aves marinhas, que aproveitam o local para pouso e reprodução. Já no fundo do mar, encontramos um visual incrível de cardumes, entre outras espécies. As raias não foram avistadas, mas golfinhos e tartarugas marinhas vieram dar boas vindas aos visitantes.